Comunicar mais caro
Faltam poucos dias para os consumidores portugueses começarem a sentir a subida dos preços das telecomunicações no orçamento familiar. Os primeiros clientes vão ser os da Meo e da Nos, com aumentos programados para 1 de fevereiro. Um mês depois, a 1 de março, as subidas chegam aos assinantes da Vodafone.
Essencialmente, conte com um agravamento das mensalidades na ordem dos 7,8%, independentemente da sua operadora. É significativo, provavelmente um dos maiores de sempre e coincide com a taxa média anual da inflação no ano completo de 2022, apurada pelo Instituto Nacional de Estatística.
Como todos sabemos, a economia foi forçada a adaptar-se ao choque da invasão da Ucrânia pela Rússia e a outros congestionamentos do tempo da pandemia. Tudo ficou mais caro no ano passado. Mas as mensalidades das telecomunicações ter-se-ão mantido, no geral, relativamente as mesmas. É por isso que argumentei em setembro que os preços, mais cedo ou mais tarde, teriam de subir (como agora se verifica). Aliás, o tema já tinha sido noticiado pelo ECO ainda em agosto.
Depois do aumento das portagens e das rendas em janeiro, os meses de fevereiro ou março trazem um novo aperto financeiro para os portugueses. Cada caso será diferente, por causa da complexidade das ofertas. No meu caso, pelas minhas contas, um pacote com TV, internet e telefone, renegociado em novembro por um preço mensal de 29,99 euros, deverá subir 2,34 euros, para 32,33 euros. Estou longe de estar na pior situação, mas há que pôr as coisas em perspetiva. Ao fim de um ano, terei desembolsado 28,08 euros a mais, o que representa praticamente o valor de uma fatura completa extra.
Há mais três reparos que importa fazer. Primeiro, as operadoras ignoraram completamente o apelo da Anacom, o regulador setorial, para que tivessem “em devida consideração o contexto social e económico do país”.
Segundo, estes aumentos simultâneos têm suscitado acusações de concertação às empresas nas redes sociais; sendo legítimo questionar se há concertação no mercado português, o que aqui está em causa é uma cláusula contratual que é prática comum, pelo que importa não misturar as coisas. Uma coisa é os preços subirem devido à inflação; outra é o facto de os clientes não terem forma de escapar a estas subidas, o que também é uma questão muito relevante.
Terceiro, a Nowo anunciou que vai manter os preços em 2022. Mas não se esqueça de que a operadora está a ser alvo de uma oferta de aquisição por parte da Vodafone. Não se conhecem muitos detalhes, mas é possível que os clientes da Nowo tenham de migrar para a nova empresa e que fiquem, por isso, sujeitos ao aumento de preços. Acredito que não é por acaso que a Vodafone quis que a subida das mensalidades acontecesse um mês mais tarde do que os concorrentes.
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