Nações escolhem internet livre
A norte-americana Doreen Bogdan-Martin venceu por larga maioria o russo Rashid Ismailov na corrida à liderança da União Internacional das Telecomunicações (ITU), a entidade global que coordena as operações e serviços de telecomunicações em todo o mundo.
Bogdan-Martin vai assumir o cargo de secretária-geral deste organismo das Nações Unidas depois de ter conquistado 139 votos, contra os 25 do rival. Sucede, assim, ao chinês Houlin Zhao na liderança da ITU e terá pela frente um mandato de sete anos.
Num período da história que tem sido comparado à Guerra Fria, esta obscura eleição punha frente a frente duas visões totalmente diferentes para o futuro da internet. Bogdan-Martin é uma experiente diplomata dos EUA com uma perspetiva de expansão do acesso à internet; Ismailov foi ministro das telecomunicações e das comunicações em massa de Vladimir Putin e desempenhou cargos executivos na chinesa Huawei.
Segundo a The Economist, a escolha da norte-americana em detrimento do russo é um sinal do crescente isolamento da Rússia na cena internacional. Mas também de que a maioria dos membros da ITU quer que a internet seja uma “rede global e descentralizada de outras redes, governada maioritariamente por consensos”.
A alternativa seria a visão que tem sido promovida pela Rússia e pela China: uma internet que se “assemelha mais a um antigo sistema telefónico”, “centralizado e controlado pelos governos”, acrescenta a revista.
Face a isto, a notícia da eleição de Bogdan-Martin não é despiciente, se for tido em conta o aviso deixado pelo ex-vice-diretor da CIA, Michael Morell, num artigo de opinião no The Washington Post: “O vencedor vai determinar se a internet do futuro é livre e aberta ou se é caracterizada por censura e controlo governamental”, escreveu na quarta-feira.
Antony J. Blinken, Secretário de Estado dos EUA, já reagiu: “Os EUA apoiam fortemente a visão da ITU e anseia trabalhar com a Sra. Bogdan-Martin para fechar as divisões digitais, conectar as 2,7 mil milhões de pessoas que não acesso fiável à internet e trilhar um percurso para a ITU que expande a cooperação de todos os participantes relevantes.”
Sim, os EUA não têm um bom track record em matéria de liberdades e garantias online. Mas quem lê as notícias sobre a censura digital na Rússia e na China sabe: é difícil de argumentar que a escolha de um membro do círculo de Vladimir Putin seria, para todos os efeitos, uma melhor opção.

Wikimedia Commons
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